24 de fev. de 2015

Protestos, greves, estradas paradas: perigos à vista

Começou. Em protesto contra o aumento do preço dos combustíveis e dos impostos sobre o transporte, caminhoneiros do Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul bloquearam 38 trechos de estradas neste fim de semana.

Como era de se esperar, o descontentamento com o governo Dilma 2, que se meteu em crises políticas, econômicas e sociais de toda ordem, desde a posse, há apenas 53 dias, transbordou dos gabinetes para as ruas, fábricas e estradas.

O movimento dos caminhoneiros começou nos principais redutos do agronegócio, em Estados onde a oposição derrotou Dilma na recente eleição presidencial, mas seus líderes prometem levá-lo para todo o País ao longo desta semana, elevando ainda mais a temperatura dos embates previstos no Congresso Nacional (ver post anterior).

"O setor de transporte de carga está passando por uma crise histórica, sem que os caminhoneiros consigam ter retorno", disse à Folha um dos organizadores do protesto, o gaúcho Tobias Brambilla, diretor da Associação dos Caminhoneiros de Rodeio Bonito.

A nova jornada de trabalho implantada pelo governo, em setembro do ano passado, estabelecendo um limite diário de oito horas, com no máximo duas horas extras, é outra razão da revolta da categoria. Nas contas de Odi Antonio Zani, líder do movimento em Palmeira das Missões (RS), a nova lei provocou uma queda de 30% no faturamento mensal.  "Eu tinha três caminhões rodando as estradas e faturava R$ 120 mil mensais no total. Tive de vender um caminhão e meu faturamento caiu para R$ 68 mil", queixou-se o caminheiro.

Ao que tudo indica, mais uma vez o governo foi surpreendido pelos fatos e até agora não se tem notícia de qualquer tipo de interlocução com os caminhoneiros rebelados, que prometeram manter os bloqueios nesta segunda-feira.

O movimento que fecha estradas nos principais corredores de escoamento da produção agrícola soma-se a outros protestos e greves que vêm pipocando pelo País desde janeiro _ e as medidas de arrocho anunciadas pelo pacote fiscal ainda nem foram implantadas. Na semana passada, trabalhadores das obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que estão paralisadas, fecharam a ponte Rio-Niterói, em protesto contra a falta de pagamento de salários.
Enquanto a classe política se alvoroça à espera da divulgação da "Lista de Janot", anunciada para esta semana, com os nomes dos parlamentares envolvidos na operação Lava-Jato, os trabalhadores estão preocupados com seus empregos, ameaçados pela paralisação de obras da Petrobras, por falta de pagamento às empreiteiras e, dessas, aos seus fornecedores.

Até onde a vista alcança, não há nenhum sinal de reação do governo, com medidas concretas, para enfrentar a enxurrada de problemas nos mais diferentes campos da vida nacional. Aos leitores que me acusam de ser muito pessimista e crítico da presidente Dilma, quero informar que não escrevo porque gosto sobre este cenário altamente preocupante, mas porque assim é, infelizmente, e eu não posso brigar com os fatos.

Quem mudou de lado foi o governo, não eu, que continuo exatamente no mesmo lugar. Estou só alertando para os perigos à vista. É explosiva esta combinação de crescimento negativo, empregos ameaçados, queda nos investimentos, falência da base de apoio no Congresso e na sociedade organizada, ministério medíocre, falta de articulação política, multiplicação de protestos, tudo sem perspectivas de mudança. Já vi este filme muitas vezes, em outros tempos e países, e o final não é feliz, lamento lembrar.
Vida que segue.

Ricardo Kotscho, R7.

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